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ENTREVISTAS

As entrevistas foram realizadas pelas orientandas Beatriz e Maria Eduarda com as mulheres Giovanna Budoya, Laura Nunes e Beatriz Peppe. As três engravidaram aos 17 anos, em meio ao ensino médio, e trazem um pouco de suas experiências sobre como lidaram com as responsabilidades e os desafios da maternidade tão jovens.

Quando questionadas acerca de como foi a primeira reação ao saber que estavam grávidas, as respostas seguiram uma mesma linha. Laura diz que se sentiu amedrontada,

“medo de como as coisas iriam acontecer […] porque mudava todos os planos que eu tinha”. Giovanna se sentiu assustada, já que, por não usar os métodos contraceptivos de maneira correta – ainda que tivesse instrução - , contava com a sorte. Beatriz diz “[Foi] horrível, surtei dentro do consultório”. Numa situação como essa, o medo se apresenta inevitável. A perspectiva de futuro, conforme demonstrada pelas entrevistadas, se esvai, e as dúvidas permeiam a mente das meninas. A partir deste momento, a família acaba por ser uma possível rede de apoio nessa instável e vulnerável situação, e quando não o é, os problemas podem se intensificar de maneira acentuada.

Acerca da reação familiar, Laura reconhece seu privilégio, já que recebeu apoio de sua mãe desde o início, que a ajudava a reconhecer o lado positivo o tempo todo. O pai acabou se preocupando se haveria casamento entre Laura e o pai de sua filha, o que acabou por não acontecer até hoje. Após o nascimento, afirma que as tensões se suavizaram com a família, havendo um apego e carinho dos avós pela criança. Para Giovanna, o desapontamento da família foi nítido, e também reconhece o apoio da mãe: “Minha mãe […] não conversava comigo sobre o assunto, passamos a conversar depois que engravidei. Minha família foi maravilhosa e me ajudam até hoje”. Beatriz reconhece que a família se assustou, e ainda assim, se alegrou com a notícia mais que ela mesma. É comum os pais se entregarem a preocupações nesse momento, como a criança e casamento. Ainda assim, é avaliada como indescritível a importância de um apoio familiar sólido – que pode, inclusive, como citado acima, incentivar um diálogo que antes não tinha vez. As mães dessas adolescentes, no caso, exerceram a empatia e permaneceram do lado de suas filhas, amparando-as e guiando-as.

Entretanto, não somente a inserção no meio familiar é complicada. Uma adolescente grávida gera polêmicas, olhares e julgamentos que afetam as relações sociais dessas meninas – principalmente no meio escolar. Da mesma forma, as transformações corporais que essas meninas perpassam são alvo das críticas do meio em que estão inseridas, o que pode afetar, inclusive, a autoestima e a visão que têm sobre si. Ao serem questionadas acerca das reações acerca do corpo social e escolar, Laura reconhece que o apoio familiar e do pai da criança foram essenciais, sendo sempre acolhida – o que não mudou a visão que tinha sobre si mesma. Já no meio escolar, reconhece “Engravidei em abril. Até as férias eles não tinham percebido nenhuma mudança corporal, mas quando voltei de férias eles perceberam que eu tinha engordado bastante, mas não associaram à gravidez até que eu tornasse público.”. Giovanna, em contrapartida, afirma que a aceitação social foi complicada: “Para ser sincera, eu mentia minha idade em alguns lugares, para evitar olhares de julgamento. No âmbito escolar […] soube que ficavam fazendo brincadeiras, mas não me importei.”. Sente que foi muito julgada, mas como não tinha muitos amigos, permaneceu com os mais próximos. Giovanna afirma ainda que todos sabiam, e não se falava em outra coisa, já que frequentou a escola até o nono mês. Afirma que, apesar do apoio escolar, recebeu indiretas de professores que a deixaram muito chateada. “O convívio social não mudou muito, porque eu só estudava”. Beatriz sentiu-se plenamente apoiada, seja pela escola ou pelas amigas, e afirma que não passou por julgamentos: “Senti que estou com as pessoas certas.”. Com base nesses depoimentos, torna-se nítida a importância do respaldo da comunidade em que estão inseridas. Traça-se um paralelo: Laura e Beatriz, que foram acolhidas e bem recebidas; e Giovanna, que foi alvo de piadas, brincadeiras e julgamentos, o que afetou a maneira como se sentia com sua gravidez.

Ao questionadas acerca das transformações corporais, Laura afirma que, em meio a tantas preocupações e responsabilidades, o processo da autoestima fica em segundo plano. “Comecei a me cuidar mais depois que a minha filha começou a ir para a escola”. Giovanna diz que conseguiu retomar o corpo anterior, graças à sua genética – o que facilitou na auto aceitação. O corpo, como pode-se ver, é uma questão decisiva na construção da nova mulher que surge junto à maternidade, e a autoaceitação ocorre por meio de um processo longo e gradativo, como Laura expôs assertivamente.

Mantendo-se na mesma linha, os desafios que a maternidade traz são inegáveis. Desde o tratamento com o bebê até com si mesma, as questões que surgem são divisores de águas para como será a vida dessas meninas. Os principais problemas enfrentados por Laura foram após o nascimento, já que engravidou no último ano do ensino médio. “Um dos principais problemas foi conciliar a rotina de minha filha com os planos que eu tinha, por isso tive que adiar o curso superior”. Giovanna afirma que sempre foi respaldada pelos pais financeiramente e sempre teve acompanhamento médico. Cita como problemas sociais os julgamentos, e também fala sobre as dificuldades do pós-nascimento: “Após o nascimento tive depressão pós-parto. Parar de estudar por um ano foi um fator para mim, já que estudar é uma das coisas mais importantes para mim, além da responsabilidade enorme que é ter um filho. […] Senti-me presa, atrasada, e levou um tempo para me adaptar a maternidade. Hoje, consigo conciliar com meu lazer.”. Beatriz também sofreu da mesma doença, apesar de estar apaixonada pelo bebê. Também ressalta: “As mudanças no corpo e aceitar o bebê foram a pior parte”.

Observa-se aqui, da mesma forma que em Iracema, que o afastamento da comunidade e dos estudos, no caso, são fortemente prejudiciais, e a solidão perpassa Giovanna e Beatriz, por exemplo. Essas meninas ainda destituem o mito que depressão pós-parto implica em não amar o próprio filho: os amavam e, ainda assim, as mudanças que eles trouxeram fizeram com que o abalamento emocional fosse definitivo. Os planos para o futuro, nitidamente, são deixados de lado, e essa situação acaba por frustrar as meninas que, ainda no início da juventude, são obrigadas a se doar a um bebê. Quando questionadas acerca dos planos de terem filhos no futuro – antes da gravidez repentina – Laura afirma que tinha isso em mente, porém quando já estabilizada no âmbito profissional, assim como Giovanna. Beatriz, por outro lado, afirma que jamais havia pensado nisso, e que, inclusive, não se dá bem com crianças.

Ainda assim, impossível seria dizer que essa nova relação não traria nenhum benefício. O amor que se instala entre as partes é evidente, e a criança, muitas vezes, se torna a luz em meio a escuridão de problemas e desesperanças na vida dessas jovens – ainda que tenham sido causadas pela vinda do bebê. Laura ressalta que possui uma relação de companheirismo com a filha, passando tempo de qualidade com a criança fazendo coisas simples – seja brincando ou passeando. Já Giovanna destaca a emoção que passou no momento do parto e o amadurecimento que um filho traz, citando como satisfatória a oportunidade de fazer parte do crescimento desse. Ao falar sobre a relação que tem com a bebê, Beatriz destaca que na gravidez não havia uma relação estabelecida, mas que após o nascimento, “Todos os momentos são os melhores”.

O depoimento final de Laura se dá com aconselhamentos a mães adolescentes: “Apesar de estarmos tendo uma ótima experiência, sabemos que não é o ideal. Se eu pudesse orientar as adolescentes seria para se protegerem de uma gravidez indesejada, porque não tem nada que mude mais a sua vida que um filho. Tivemos que deixar de lado nossos planos pessoais e profissionais para focarmos em ter uma filha. Tivemos que nos colocar de lado aos 16 anos para colocar uma criança como nossa prioridade. Muitas pessoas acreditam que para ter um filho devem se preparar financeiramente, mas esquecem do mais importante que é se preparar emocional e psicologicamente. E uma gravidez na adolescência geralmente não tem estrutura nem financeira, nem psicológica e nem emocional para criar um ser humano, tendo que deixar muitas vezes os estudos de lado para começar a trabalhar para sustentá-lo.”. Para Laura, a palavra que resume a maternidade é amadurecimento. Para Beatriz, é o amor. Giovanna, ao finalizar, fala sobre seu processo, afirmando que o amadurecimento em relação a responsabilidades foi inevitável. “Por conta do apoio que tive, reconheço que para mim foi mais fácil do que para muitas meninas, que precisam abrir mão de muitas coisas. Então, hoje digo que tenho dois mundos, sou uma mãe e esposa dedicada, faço de tudo pelo meu filho, mas também estudo, trabalho na área, saio para festas como muitos jovens fazem. Mas não posso me usar como exemplo para todas as meninas que engravidam com 17 anos, tenho certeza que a maioria não tinha esse privilégio. Resumindo, minha vida mudou, mas nunca passei por tantas dificuldades pelo privilégio que tinha. Hoje sou uma pessoa mais responsável, bem resolvida e vivendo a melhor fase da minha vida.”. Para Beatriz, a consideração final é que “A maternidade nos mostra os caminhos e as pessoas certas”. Assim, destacam a importância da conscientização e do apoio externo, bem como o amadurecimento inevitável que essa frase impulsiona. Ressaltam também, a importância da prevenção e da informação em casos tanto anteriores à gravidez. Estas que protegerão outras meninas de passarem pela mesma situação.

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